Botos-cinza no Litoral Norte do Estado de São Paulo

10 de janeiro de 2018

O golfinho de nome popular boto cinza e da espécie Sotalia guianensis tem dados insuficientes quanto ao seu estado de conservação, de acordo com a lista vermelha da IUCN. Observamos regularmente grandes grupos de indivíduos desta espécie na região do litoral norte de SP durante as atividades de monitoramento.

Percebemos o aumento do número de encalhes destes animais nos últimos três meses na região. Foram 47 ocorrências em 2017, enquanto a média para os anos anteriores se manteve em seis casos. Essa sazonalidade pode ser observada em diversas outras espécies que atendemos, como por exemplo, o número de Jubartes encalhadas em 2016 (10) e 2017 (2).

Infelizmente a principal causa dos encalhes destes animais é a interação com a pesca, que acaba ocasionando uma captura incidental, e que muitas vezes pode levar os animais à morte por afogamento. Por essa razão, o procedimento ao encontramos um golfinho morto vinha sendo o regular principalmente porque, a maioria dos animais encontrados estava em avançado estado de decomposição, o que dificulta bastante a determinação da causa da morte e a coleta de material.

Com a situação relatada pelo Projeto Boto Cinza e Macqua na baía de Sepetiba (RJ), acreditamos que seja importante investigar, em se tratando de uma região com proximidade geográfica, se o mesmo vírus pode ser registrado nos animais encalhados na região do litoral norte do estado de SP.

Sendo assim, dos 47 animais encontrados mortos, 18 foram encaminhados para a necropsia e tiveram material biológico coletado para análises mais específicas. Parte do material foi encaminhada para o Departamento de Patologia da Faculdade de Medicina Veterinária da USP, para verificar se os animais da nossa região foram acometidos pelo mesmo vírus que os animais do Rio de Janeiro. Para essas amostras ainda estamos aguardando o resultado.

Para a maioria dos animais com causa da morte determinada, foi possível observar sinais de afogamento, o que corrobora com a informação de que a interação com a pesca é um fator que contribui, e até mesmo determina a morte do animal.

Acreditamos que uma das medidas importantes para o entendimento da causa destes encalhes e suas relações com a pesca, seja a implantação de projetos de pesquisa que visem medidas mitigadoras. Um exemplo bem sucedido é o do Projeto TAMAR de Ubatuba que realizou experimentos com as redes de pesca costeiras de emalhe visando diminuir a captura incidental de tartarugas marinhas e que apontou a melhor hora para a pesca em horário noturno, diminuindo a captura de tartarugas e mantendo a captura de peixes.

Igualmente importante é o incentivo sobre projetos que estudem e compreendam a biologia e ecologia destes animais, para que possamos atuar na preservação e conservação da espécie.

O Instituto Argonauta para a Conservação Costeira e Marinha é uma organização não governamental sem fins lucrativos, fundada em julho de 1998 pela diretoria do Aquário de Ubatuba. Foi criado para incentivar a obtenção de recursos para projetos de pesquisa voltados à preservação do oceano. Sediado em Ubatuba, atua em parceria estabelecida através de convênio com o Aquário de Ubatuba

O Projeto de Monitoramento de Praias da Bacia de Santos (PMP-BS) é uma atividade desenvolvida para o atendimento de condicionante do licenciamento ambiental federal das atividades da Petrobras de produção e escoamento de petróleo e gás natural no Polo Pré-Sal da Bacia de Santos, conduzida pelo Ibama, coordenada pela Univali e executada pelo Instituto Argonauta no Litoral Norte de São Paulo.

Caso encontre algum animal marinho vivo debilitado ou morto na orla das praias que vão de Ubatuba - SP até Laguna - SC lique para o 0800 642 3341